Algumas ponderações pós-eleições


Por tudo que consta nesse blog, acho que ninguém tem dúvida que, dentre os candidatos à Presidência da República do Brasil que se apresentaram para ocupar o cargo, eu havia escolhido José Serra.

Dentro de minhas inúmeras limitações de tempo e dinheiro e das limitações próprias, decorrentes do fato de ser ninguém, apenas (mais) um cidadão insatisfeito com os rumos que vêm dando a meu País, acredito ter feito o que estava ao meu alcance para que esse candidato fosse o eleito. Não foi.

Com a cabeça um pouco mais fria, ponderando sobre todo o havido nessas eleições presidenciais de 2010 e sobre os comentários que tenho lido de analistas políticos, blogueiros, dos próprios políticos, algumas lições começam a ser delineadas, algumas conclusões já podem ser tiradas.

A primeira e a mais evidente a meu ver é que não tivemos oposição nos últimos 8 anos. Essa falta de oposição efetiva é a primeira grande razão para que Lula tivesse crescido tanto aos olhos do povo (ainda que não acredite na popularidade que as pesquisas apontam – e não acredito mesmo -, sei que ela é muito maior do que a que faria jus).

Essa falta de oposição é a grande responsável pelo quase endeusamento daquele que (ainda) está Presidente e permitiu a ele, com a complacência clara (diria cumplicidade quase criminosa) dos meios de comunicação em geral (salvo honrosas exceções) e daqueles que deveriam zelar pela aplicação das leis e Constituição Federal, ainda vigentes: Ministério Público, Poder Judiciário e Ordem dos Advogados do Brasil (não necessariamente nesta ordem) que atropelasse a legislação em vigor, achincalhasse as instituições, a democracia, a oposição e a nós, grande parte do povo brasileiro que não o aprova e para os quais ele assumidamente não governa: "a turma do contra".

Sem sombra de dúvidas, essa é, a meu ver, a principal razão da mantença do PT no Governo Federal. Se oposição houvesse sido feita no correr desses últimos anos – e não falo de oposição burra, sistemática, mas razões legítimas não faltaram para que se opusessem – o quadro de início da "corrida eleitoral" já seria outro.

Agora, não adianta passar 8 anos dizendo amém a todas as bobagens de Lula, não o desmentindo quando delirava afirmando aos quatro ventos que o Brasil antes dele não existia, entre outras coisas, e meses antes da disputa eleitoral (chegando ao absurdo de usar a imagem do próprio Lula em seu programa eleitoral) se apresentar como "oposição".

Oposição nesse País, como bem disse meu amigo Paschoal, O Copista, somos nós.

Assim sendo, considerando apenas esse aspecto, já vi como um milagre que Serra tenha passado para o segundo turno.

Em verdade, ele passou ao segundo turno com um quadro extremamente vantajoso para si: foram 47.651.434 de votos em Dilma, pela "continuidade", e 53.938.719 de votos que, pelas mais diferentes razões, não queriam a tal continuidade. E ele não soube aproveitar o recado.

O segundo fator determinante foi a presença incômoda, ilegal, inconstitucional, agressiva, daquele que deveria estar na Presidência da República. E todos se calaram. Ninguém, nenhuma das instituições brasileiras foi capaz de tomar uma atitude efetiva para colocar aquele senhor em seu devido lugar, deixando claro para ele – e para o resto da Nação – que Presidente da República não pode sair falando qualquer asneira que lhe passe pela cabeça, que, no cargo que ocupa, não há "horário de expediente". Ele o é (ou deve sê-lo) em período integral. Mas nós, povo, anônimos, ficamos "entregues" pela absurda inação das instituições.

E aqui vem uma crítica a um artigo do Ricardo Setti, no qual ele afirma que Dilma ganhou as eleições limpamente. Não ganhou:

Não foi limpo, legal, nem digno, o comportamento de Lula.
Não foi limpo, legal, nem digno, esconderem em um cofre a biografia da então candidata, da população.
Não foi limpo, legal, nem digno, usar dinheiro e máquinas públicos, para fazer propaganda.
Não foi limpo, legal, nem digno, o recolhimento dos panfletos encomendados pela Diocese de Guarulhos (como, aliás, agora, após as eleições, informa a Procuradoria Geral Eleitoral, vejam no Reinaldo Azevedo).
Não foi limpa, legal, nem digna, a condução das "investigações" pela Polícia de Lula (antiga Polícia Federal) sobre a quebra de sigilo bancário ou sobre a corrupção que campeou a Casa Civil.
Poderia arrolar aqui inúmeras, mais inúmeras outras sujeiras, ilegalidades e indignidades. Espero voltar, ainda a esse assunto, que não complemento no momento por absoluta falta de tempo.

Então, Ricardo Setti, não me venha dizer que as eleições foram ganhas limpamente. Não foram. Foram uma vergonha para a Nação (decente e esclarecida).

Quero salientar que, apesar de ter tudo isso muito claro, não estou pregando, nem jamais pregaria, qualquer tipo de "golpe" contra as eleições realizadas e reconhecidas como legítimas.

Defendo a estabilidade das relações. Não defenderia, jamais, algo que abalasse tal estabilidade.

Defendo a lei. Defendo a Constituição Federal. Estas, já foram (e muito) feridas. Espero que tenhamos aprendido e não deixemos que essa vergonha torne a acontecer.

Um terceiro fator - e parece claro para maioria dos oposicionistas – foi a falta de engajamento, de comprometimento, do Senador Aécio Neves. Ele, por si, não seria, quem sabe determinante. Mas poderia ter colaborado muito mais, se empenhado muito mais. Mas ele não teve interesse.

Quanto a ele, sei que em futuro breve, colherá o que plantou (ou deixou de plantar) nessas eleições. Mas o PSDB deveria repensar a situação dele no partido. Deveriam aprender com o PT. Vejam que Fernando Pimentel está sendo hostilizado por ter "traído" a companheirada, por ter se associado justamente com Aécio...(leiam no Claudio Humberto). Não defendo, evidentemente, a hostilidade, mas lá no PT as coisas são muito bem definidas (no que estão absolutamente certos): ou estamos juntos ou não estamos. Não há espaço para se estar "meio junto".

E o quarto fator, acho que vocês devem estar de acordo, foi a propaganda eleitoral, excessivamente "light", considerando todo o acima exposto.  A cada novo programa esperávamos algo um pouco mais duro, que Serra mostrasse um pouco mais de firmeza, de indignação... E ficamos a ver navios.

Por fim, aprendam a falar a língua do povo.

O eleitor tem mais facilidade – por incrível que possa parecer (a mim parece) – em entender o que a Dilma está tentando dizer, o que o Lula fala quando assassina a língua pátria, do que o que vocês dizem. É triste? Muito. Mas é a realidade.

Partidos de oposição, fica, então, esse recado: são, pelo menos, 43.711.388 de pessoas na oposição. E queremos oposição. Volto a frisar, não é oposição burra, sistemática, mas é tolerância zero mesmo.
Não deixem passar nada, absolutamente nada de errado. "Metam a boca no trombone" a cada irregularidade, a cada desvio de verba, a cada tentativa de censura.

Escutem a população que está insatisfeita. Procurem atendê-la. Como "turma do contra", já não temos ninguém por nós. Usem o espaço de que não dispomos e ajam efetivamente como oposição.

E comecem ontem.

Se for para fazer diferente, fica mais bonito que "joguem a toalha", desistam. Nós não desistiremos.

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